Ela realmente destrói...

Conheci sua história no avião que partira de Manaus e ia em direção á Curitiba, fazendo ponte com Brasília. Seu nome era Johnny. Sua aparência era realmente bonita. Cabelos negros que desenhavam o contorno de seu rosto, olhos da mesma cor e corpo esbelto. Havia recentemente completado os seus 20 anos. Minha idade. Não estava sentado ao meu lado, mas sim ao lado oposto do meu acento. Estava em estado de choque e surpreendido. Nunca havia andado de avião. Sua história poderia ser considerada a de um ‘brasileiro comum’, mas não era. Fora criado por sua avó, pois os pais rejeitaram-no ao nascer. Desde então ele recorria a tudo o que podia para obter o carinho para suprir aquele ao qual deveria ser dado por aqueles de quem ele veio ao mundo. Usara todos os tipos de drogas: maconha, craque, heroína. Vendera jóias de sua tia, de sua avó, para conseguir o objeto tão desejado. Fora preso duas vezes e duas vezes sua tia pagara a fiança para que ele fosse libertado. Seu destino era Goiânia. Tentar a vida lá. Tentar resgatar o que ainda lhe havia de vida.
Quem me relatava sua história tristemente era sua tia que havia sentado ao meu lado e junto dela estava sua filha de cinco anos. Apesar de tudo o que ele já fizera de errado e prejudicial, ela pensava como eu. Todos merecem novas oportunidades na vida, mesmo que ela já pareça perdida. Eu olhava em sua direção quase sem conseguir acreditar que um rapaz tão jovem já havia sacrificado tanto tempo de sua vida com algo tão banal. Entristeci-me por um momento voltando meu olhar para o livro que jazia em meu colo. Abri-o e comecei a lê-lo sem conseguir prestar muita atenção na leitura. Quando achamos que a vida já não nos dá alternativas e que não conseguiremos mais resistir ou tentar novamente, é aí que Deus nos dá forças para continuar.